Caos Contemporâneo

“Mergulhando
No abismo de cores
Não sinto mais nada
Ao meu redor
Se combinam
E originam
As cores
Da noite
Do dia
Da fonte
Defronte, à insignificante
Existência”

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Pedro Virgílio iniciou-se na pintura em 2018, aos 14 anos, por meio da sugestão de uma estagiaria de artes para que ele buscasse se expressar por meio da arte abstrata. Apesar de ainda ser muito jovem Pedro enfrentou uma adolescência marcada por episódios de depressão e dificuldade em lidar com questões pessoais e existenciais. Abordar essa questão torna-se relevante porque ela está profundamente ligada à sua personalidade e à sua força criativa. 

Esta exposição contempla pinturas em tinta acrílica sobre tela, com cores vibrantes, profundas e cheias de gestualidade. Visitar esta mostra é um passeio pelos sentimentos complexos que Pedro busca expressar. Muitas vezes a necessidade de expressão de um artista se faz de maneira urgente e em diversas frentes. Pedro possui uma coleção de poemas, como o que abre este texto. Os poemas são de uma tocante sinceridade e não há como dissociar sua produção poética da sua pintura, e vice-versa. Por meio da poesia Pedro dá claros sinais da sua visão sobre o mundo que o cerca, sobre a dura realidade de ser um menino muito jovem, mas já com o céu pairando sobre os seus ombros. Se ele pinta poemas? Talvez sim. Não perguntei porque isso talvez não seja relevante. O que importa é a força criativa e muito legítima que surge da necessidade do artista em criar uma obra autoral e potente. Não há dúvidas de que Pedro tem um caminho pela frente e que sua produção deve avançar ainda mais, e quem sabe, até em novas direções como a performance e o vídeo, porque o mundo de Pedro é muito maior que esta seleção de pinturas que tive o privilégio de selecionar. Esta mostra encerra em si uma etapa importante que é ter a coragem de expor-se. E isso não é algo fácil de equacionar. Poesia é liberdade. Liberdade é prisão. Exibir-se é um ato de coragem e de ousadia. 

A arte tem a capacidade da transcendência e por meio dela podemos tornar nossa existência mais leve e paupável. A arte é capaz de tratar de algumas feridas, mas nem sempre poderá curá-las.  A cura vem da aceitação de nossa natureza, de seres imperfeitos e em constante mutação. Seguir em frente, criando, traz essa sensação de que vale a pena resistir. 

Se nada der certo, teremos a arte, esse substantivo feminino concreto, humano, abstrato e apaixonante, com o qual dançamos à beira do abismo de nossas almas.

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Fernando Spaziani